
O meu pai conta muitas vezes que quando era miúdo pelo Natal recebia um pacote de amendoins.
No Natal passado depois de distribuirmos as prendas, onde os chinelos e as meias foram reis, por brincadeira coloquei alguns amendoins num pacote de embrulho já usado e disse-lhe: " Olha, está aqui mais uma prenda para ti." Ele abriu e sorriu.
Os meus pais não ligam a prendas. Sempre fui habituada assim e já aqui o tinha dito, aquando do post do meu aniversário, mas sempre tive um embrulho debaixo da árvore: uns chinelos, um robe ou um par de cuecas, coisas que nunca são demais e dão sempre jeito, porque as prendas devem ser isso: coisas utéis.
Hoje na loja ouço uma senhora dizer para o filho: " Nunca tive um Natal assim. Nunca tive a árvore sem nada por baixo."
Ao ouvir aquilo pensei na necessidade de consumo e na necessidade de uma base de árvore recheada de embrulhos. É isso que faz um Natal Feliz?
Aqui escrevi também um post sobre as coisas que me fazem feliz, e uma delas foi o Natal passado onde tinha a minha pequena família reunida o que não acontece todos os anos e este ano vai ser um desses Natais em que não vamos estar todos juntos. Tínhamos as nossas humildes prendas para oferecer e foi divertido. Em anos que não me lembro de sair à rua em família e estar em família durante muito tempo.
O meu Natal se calhar é diferente do da maioria das pessoas, regra geral janto com os meus pais mas depois saio à rua e só regresso de madrugada. É a tradição da aldeia que me o leva a fazê-lo e isso nunca foi problema lá em casa. É mesmo assim.
O ano passado saímos todos. Foi diferente e foi muito bom e deixou-me com o coração cheio estar com os meus e em família bebermos umas minis, quem me conhece sabe que isto é grande para mim :)
Não sei o que traz de felicidade às pessoas terem uma árvore enfeitada a prendas. Não sei porque é que as crianças têm de ter AQUELE brinquedo ou os adolescentes têm de ter um Iphone ou uma "tablete" ( não as de chocolate!)
As pessoas esquecem o verdadeiro valor do Natal. O que importa são as prendas, não importa o valor monetário nem tão pouco o valor sentimental.
Ouço coisas ridículas vindas das bocas dos clientes que passam lá na loja.
Mas hoje também ouvi uma senhora de meia idade contar-me: " Sabe, eu não devia era comprar nada porque me roubaram. Roubaram-me a reforma e os subsídios " No entanto a senhora comprou as suas prendas: um par de meias, uma pijama, um pack de boxers: coisas úteis.
Despediu-se de mim agarrando-me a mão e desejando-me um Feliz Natal, e pimba! vieram-se-me as lágrimas aos olhos e perdi a postura, que convém ter atrás de uma caixa de loja, por alguns minutos.
Faltam 4 dias para o Natal e não comprei uma única prenda.
Conhecendo-me como me conheço sei que sou bem capaz de ao último minuto comprar algo para oferecer aos meus: porque gosto de oferecer e gosto de ver sorrisos nas caras deles.
A paciência e vontade de comprar o que quer que seja depois de 8 horas de trabalho é nula.
Mas sei que se na noite de Natal tiver as mãos vazias de prendas vou encontrar sorrisos na cara deles na mesma, porque estou lá com eles e sei que isso a eles lhes basta.
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