É certo que os tempos são outros e também já os meus pais diziam que no tempo deles é que era.
Sou a filha do meio.
Quando vim ao mundo já cá andava a minha irmã, 3 anos e 3 dias mais velha que eu. Aos 9 anos ganhei um irmão.
Fui a mais nova durante 9 anos. A filhinha do papá, a que saltava para o colo dele mal ele chegava do trabalho, lhe sacava o pente que ele sempre trazia no bolso da camisa, e lhe penteava o cabelo.
Nunca me senti mimada mas acho que a minha irmã se sentia renegada.
Com a vinda do meu irmão, também nunca tive ciúmes.
Sempre existiu para todos. Comida nesta casa nunca faltou, mas nunca fomos mimados com brinquedos e outras coisas.
Ganhávamos roupa nova duas vezes ao ano: na Páscoa e no Natal.
Agora que escrevo, lembro que o meu irmão sempre foi o mais mimado de todos, por ser o filho macho.
Sempre tive medo de pedir um biscoito à minha mãe e quando nos portávamos mal, como castigo, ela não nos deixava lanchar, impedindo-nos de barrar o Tulicreme nos papos secos que comprava todos os dias.
Tive 2 barbies em toda a minha infância, que sempre estimei e que era suposto colocar aqui uma foto, não tivesse a minha achado que com 20 anos já não quereria saber delas e não as tivesse dado à neta da vizinha.
O meu irmão sempre berrou que queria uma Playstation. Nunca a teve. Não morreu.
Comprei o meu primeiro telemóvel, já devia ter uns 17 anos, com dinheiro que ganhava através da escola profissional.
Não morri por toda a gente já ter uma telemóvel e eu não.
Sempre tive telefone em casa e antigamente as pessoas compareciam à hora marcada no local marcado.
O computador de onde vos escrevo é meu. Comprei-o eu. Paguei-o eu, há 6 anos trás. Já lhe falta um tecla, não pensa lá muito rápido mas já me fez ser DJ por duas noites e ganhar 30 euros por isso.
A carta de condução fui eu que paguei. Custou-me os olhos da cara e serve só para fazer volume na carteira.
A minha irmã pagou a dela o meu irmão talvez veja a dele paga pelos meus pais. Não me interessa, é lá com eles.
Comecei a trabalhar aos 19 anos.
Tive um ano na Faculdade, quando já tinha uns 25 anos e fui eu que paguei as minhas propinas.
Sai duas vezes de casa para ir morar sozinha e nunca vi dinheiro dos meus pais entrar na minha conta, mas não passei fome e eles também não permitiriam isso.
Não usei aparelho nos dentes. Ando a tratar disso e sairá do meu bolso o dinheiro para endireitar a cramalheira.
Ora, com isto tudo, o que quero dizer é que a juventude de hoje está muito mal habituada.
Vejo colegas minhas a quererem oferecer tabletas a crianças de 9 anos e Iphones de 400 euros a adolescentes de 12.
Com 16 a malta já quer ir para o Sudoeste.
Saem à noite com 14 anos em trajes que não lembra a ninguém.
Têm tudo pago sem se preocuparem de onde sai o dinheiro.
Não interessa que os pais não estejam em casa, o que interessa é que no fim de semana a mãe tenha tempo de ir ao Colombo à Primark.
A malta quer coisas e mais coisas.
Exigem aos pais que lhes satisfaçam todos os desejos e caprichos " Porque a Maria tem e eu não...Oh mãe, vá lá!"
E os pais dão, para os calarem, consentem porque já têm a cabeça cheia de outras coisas e estão fartos de os ouvir. Porque a sociedade é cada vez mais exigente e se A tem B também tem de ter para se sentir incluido, para não ser vitima de porrada na escola ( isso tem um nome chique agora), e porque mais um série de coisas.
A juventude exige sem saber o trabalhão que dá ganhar o dinheiro.
Vão sendo mal habituados. Mimados.
E depois o que vamos tendo são jovens exigentes, mal educados e com o rei na barriga.
No meu tempo pedíamos pouco, ganhávamos pouco, era-nos ensinado o valor das coisas.
Sobrevivi sem metade daquilo que queria, porque o essencial sempre tive: comida, uma cama para dormir, uma casa, roupa lavada e apresentável, mesmo que não fosse a última moda da Bershka.
Aqui estou a eu a saber que o dinheiro custa mais a ganhar do que a gastar. Que o esforço que os meus pais fizeram por nós o 3 foi imenso e que lhes dou grande valor por isso, porque por me terem dito que não muitas vezes, ensinaram-me que se eu quiser ter tenho de ser eu a ganhar para isso e que com isso darei maior valor às coisas.
Temos que certos valores se estejam a perder.
E se tenho vontade de trazer ao mundo uma criança é muito pela ânsia de lhe ensinar valores que julgo perdidos nesta sociedade consumista que existe nos dias de hoje.
Este texto não faz lá grande sentido, mas pronto, a isso já vocês se habituaram.
Sem comentários:
Enviar um comentário