quinta-feira, 14 de junho de 2012

Happy Birthday To Me

"No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!..."



Fernando Pessoa. Ontem faria 124 anos e hoje faço eu 29. 
Prendas?
Dos meus pais habituei-me a já não esperar nada. A vida é dura, os tempos são de crise, são de contenção e eles nunca acreditaram em prendas. Habituei-me a não esperar nada e não os censuro pelo nada que espero deles. Em 29 anos já me deram muito. Coisas materiais não superam o tudo que me deram até hoje. Mas surpreendem-me sempre. Pelo abre-latas que me dão num ano ou pelos simples calções que me oferecem no outro e pelo bolo com velas que me compram sempre.

Dos outros?
Atitudes. Gestos. Atenção. Lembrança. Amor. Amizade. Espero isso.
De uns recebo, mas dos que esperava mais recebo menos. É só mais um dia, como se ouve dizer, mas não é. É um dia num ano. É o teu dia. É o dia em que esperas mesmo que te digam algo. que se calhar guardem algo especial para dizer.
Eu sou assim. Penso assim. Não espero pelo dia de anos de uma pessoa para lhe dizer o que sinto por ela, mas faço questão de nesse dia ter umas palavras especiais para lhe dizer. Porque é o dia dela.
Anyway...

Parabéns para mim!!
E agora vou ali experimentar o novo stencil que fiz.
 

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